Introdução

Núcleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento (NMD) constitui um espaço de promoção de atividades integradas de pesquisa-ação-formação em ecologia humana sistêmica, estando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGSP-UFSC) desde 1987. Integra o Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais precisamente, ele foi criado visando (i) estimular uma reflexão permanente sobre os fundamentos epistemológicos e éticos desta nova área de conhecimento inter e transdisciplinar; (ii) acolher e orientar estudantes  de graduação e pós-graduação, estagiários e pesquisadores brasileiros e estrangeiros; (iii) promover pesquisas e cursos de capacitação em gestão integrada e compartilhada de recursos naturais de uso comum (“Commons”); (iv) oferecer assessoria técnica a instituições governamentais e não-governamentais interessadas na criação de estratégias alternativas de desenvolvimento (à luz de uma epistemologia sistêmico-complexa); e (v) contribuir para a difusão de informação científica mediante a promoção de conferências, seminários e simpósios, além da manutenção de uma linha editorial e de um centro de documentação aberto à comunidade. Integram o NMD professores e estudantes de graduação e pós-graduação (brasileiros e estrangeiros) associados aos mais diversos ramos de investigação científica e filosófica.

Desde a sua criação, em 1987, o NMD vem se mostrando capaz de mobilizar a participação de especialistas e equipes universitárias sediadas em outros estados brasileiros e no exterior. Ao longo do tempo, no rol das principais parcerias interinstitucionais podemos incluir a Universidade de São Paulo, a UNICAMP, o Laboratório de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí (CTTMar-UNIVALI), a Fundação Universitária de Blumenau (FURB), a Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina (UNESC), a Universidade do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Instituto Chico Mendes (ICMBio), a Chefia e o Conselho Gestor da Área de Preservação Ambiental da Baleia Franca (CONAPA), o Fórum da Agenda 21 local da Lagoa de Ibiraquera, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina (EPAGRI), a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP), o Conselho Nacional de Populações Tradicionais (CNPT), o Ministério Público Federal, o Instituto de Recursos Naturais da Universidade de Manitoba (Canadá), a Universidade do Québec em Montréal (UQAM, Canadá), o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (CRBC-EHESS, França), a Universidade de Tours (Département Aménagement / Laboratoire CITERES), a Universidade de Grenoble (Institut de Géographie Alpine), o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD, França), o Centre for Ecological Sciences de Bangalore, Índia; o Instituto de Educação da Universidade Veracruzana / México) e o Núcleo INTERFASE na Universidade Autônoma de Barcelona.

Após duas décadas de envolvimento com a pesquisa básica e aplicada no domínio da ecologia humana sistêmica, este coletivo transdisciplinar ocupa hoje em dia uma posição singular no sistema universitário brasileiro. Pois já se tornou um lugar-comum na comunidade científica (nacional e internacional) o reconhecimento de que têm sido muito lentos os avanços alcançados na busca de elucidação da problemática socioecológica global por meio de enfoques integrados e transescalares, mobilizando as ciências naturais e sociais básicas e aplicadas – além da pesquisa filosófica. No contexto internacional, por exemplo, apenas em 1994 a Associação Internacional de Sociologia (ISA) optou pela criação de um comitê centrado na investigação do binômio ambiente & sociedade (Lange, 2002). Já no contexto brasileiro, a criação pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de um comitê assessor especial para estimular a consolidação do campo interdisciplinar das ciências ambientais somente foi concebida no final de 2004. Atualmente, as demandas de financiamento para projetos relacionados à problemática socioecológica têm sido acolhidas, entre outros comitês monodisciplinares, pelo comitê interdisciplinar. Além disso, a consulta atualizada aos relatórios sobre o estado-da-arte das pesquisas em curso indica que o tratamento disjuntivo e reducionista das interrelações e retroalimentações em sistemas bioecológicos e socioculturais continua sendo percebido e exercido como uma prática legítima no mainstream da comunidade científica, nas instituições de gestão governamental, na mídia e nas organizações civis envolvidas com políticas públicas de desenvolvimento rural e urbano no País.

Sensível à necessidade de “catalisar” atualmente o processo de integração teórico-metodológica e inter-institucional no campo das pesquisas sobre desenvolvimento territorial sustentável (ou, na retórica do NMD, sobre ecodesenvolvimento territorial) no País, nossa equipe tem insistido no reconhecimento do potencial integrativo contido no novo paradigma sistêmico-complexo. Seus membros têm evidenciado também, ainda hoje, a carência de uma política transformadora de reorganização universitária capaz de levar em conta uma abertura consequente aos desafios sui generis colocados pelo agravamento tendencial da crise socioecológica global (visto agora à luz dos controvertidos debates sobre o Antropoceno em núcleos de vanguarda no exterior).

No que se segue, são resgatados os principais pontos de inflexão da longa trajetória de evolução da equipe, indicando (de forma cursiva) não só os principais resultados alcançados até agora, mas também os inúmeros desafios a serem enfrentados nos próximos tempos. Acreditamos assim que esta síntese possa se mostrar útil a uma avaliação crítica dos processos de pesquisa-ação-formação que temos estimulado em nome do enfoque de ecodesenvolvimento territorial e também à busca de novas estratégias de intervenção compartilhadas com equipes congêneres atuando em rede no País e no exterior daqui em diante (FONTAN; VIEIRA, 2009; VIEIRA, 2019).