II – A Cúpula da Terra e os desafios de integração interinstitucional (1992-1997)

O GPE foi reestruturado e ampliado no período subsequente à realização da CNUMAD 92. Ele esteve então à frente do processo de concepção e implementação do Programa Institucional de Meio Ambiente da UFSC / PIMA – um espaço inovador de integração das atividades de pesquisa, ensino e extensão criado no campus da UFSC por iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. O apoio regular do CNPq mostrou-se indispensável ao êxito desse esforço de fortalecimento institucional do grupo, agora sintonizado com as novas diretrizes nacionais de fomento a projetos integrados e núcleos de excelência adotada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (PADCT-CIAMB) e pela FINEP.

 Num dos projetos incluídos neste novo programa, intitulado As ciências humanas e sociais e a problemática do meio ambiente no Brasil (1980-1990), foi prevista a elaboração de uma bibliografia seletiva e crítica da produção brasileira – oriunda das diversas disciplinas das ciências humanas e sociais – focalizando a problemática socioecológica nos níveis básico e aplicado de investigação. Com base num mapeamento e numa avaliação preliminares dessas contribuições, esta pesquisa pretendia identificar em nossa comunidade acadêmica os grandes eixos temáticos de um novo projeto de redelimitação do campo da ecologia humana, agora considerada em seu sentido mais amplo, a saber: a compreensão da dinâmica de interdependências e retroalimentações tecidas entre comunidades humanas e o meio ambiente biofísico e construído, à luz das categorias de ecossistema, adaptação e evolução. Os primeiros relatórios parciais foram publicados no Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais (BIB / ANPOCS no. 33: 3-32, 1992) e em vários capítulos de livros (Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável, organizada em 1992 por Daniel J. Hogan e Paulo Freire Vieira, e As ciências sociais e a questão ambiental: rumo à interdisciplinaridade, organizada por Paulo Freire Vieira e Dália Maimon em 1993. Uma versão foi publicada no número 20 do Cahiers du Brésil Contemporain (VIEIRA, 1993), periódico mantido pelo Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, em Paris. Além disso, foi gerado um relatório do trabalho de mapeamento e revisão crítica de literatura especializada sobre os fundamentos teórico-metodológicos e epistemológicos do enfoque de ecodesenvolvimento – incluindo uma análise de viabilidade político-institucional tendo em vista sua aplicação consistente no contexto brasileiro da época (VIEIRA, 1995b; 1998).

Na sequência, promovemos um trabalho adicional de revisão e síntese da bibliografia produzida recentemente no País sobre os fatores condicionantes e as estratégias possíveis de confrontação do fenômeno de erosão da diversidade biológica e cultural em ecossistemas litorâneos da Região Sul. Como expressão de um interesse crescente pela valorização energética e industrial de recursos naturais renováveis, foram conduzidas investigações e debates sobre a elaboração de uma política de bio-industrialização descentralizada em Santa Catarina – na trilha de uma tese de doutorado sobre o tema defendida por Cécile Raud junto à École des Hautes Études em Sciences Slociales (EHESS), sob a orientação do professor Ignacy Sachs.

Seria importante mencionar também a organização do Primeiro Simpósio Nacional sobre Perspectivas de Ecodesenvolvimento para o Brasil, efetivado em Florianópolis no período de 29 a 31 de agosto de 1994. Deste evento, que contou com a participação do professor Sachs, emergiu uma nova coletânea, publicada pela Editora da UFSC, reunindo contribuições de pesquisadores que já desfrutavam de grande visibilidade em setores da academia brasileira sensíveis ao aprofundamento da problemática ecológico-política – a exemplo de Henrique Rattner, Antonio Carlos Diegues, John Wilkinson, Sonia Bergamasco, Emílio Lebre LaRovere, Ricardo Toledo Neder e Maurício Andrés Ribeiro (VIEIRA; GUERRA, 1995).

No decorrer de um segundo estágio de pós-doutorado na França, desta vez junto ao Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (CIRAD), no período de 1995-1996, Paulo Freire Vieira teve a oportunidade de interagir com os integrantes do recém criado Núcleo de Gestão de Recursos Naturais Renováveis (CIRAD-GREEN), coordenado pelo Dr. Jaques Weber – um especialista em antropologia econômica dedicado a pesquisas comparativas sobre sistemas de pesca artesanal nos países do Sul. Do trabalho desenvolvido em parceria com o CIRAD-GREEN e dos inúmeros contatos suplementares estabelecidos com equipes vinculadas ao Programme Environnement do Centre National de Recherche Scientifique (CNRS) emergiram os principais termos de referência para a criação de uma nova agenda de pesquisas do GPE para os dois anos subsequentes (VIEIRA; WEBER, 2000).